"O fim do Direito é a paz; o meio de atingi-lo, a luta. O Direito não é uma simples idéia, é força viva. Por isso a justiça sustenta, em uma das mãos, a balança, com que pesa o Direito, enquanto na outra segura a espada, por meio da qual se defende. A espada sem a balança é a força bruta, a balança sem a espada é a impotência do Direito. Uma completa a outra. O verdadeiro Estado de Direito só pode existir quando a justiça bradir a espada com a mesma habilidade com que manipula a balança."

-- Rudolf Von Ihering

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IDIOMA DESEJADO.

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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

PATRIMÔNIO MUNDIAL DA HUMANIDADE

POR CARLOS NOBRE

Foto: A tradicional homenagem a Zumbi dos Palmares, hoje,  na Praça Onze, no Rio de Janeiro,  começou às seis horas da manhã, e se estendeu até o início da tarde, com  a apresentação de diversos grupos afro, na base do monumento.


Nossa proposta, era documentar os diversos eventos do Dia Nacional da Consciência Negra que iriam para acontecer no Rio de Janeiro, nas Zonas Sul, Centro e Norte, em 20 de novembro passado. 

Por volta das 11 horas, ontem, saímos dos eventos da base do Monumento de Zumbi dos Palmares, na Praça Onze, onde, ali, desde seis horas da manhã, assistimos a lavagem do monumento pelas mães-de-santo, apresentações de grupos artísticos, discursos de autoridades sobre ações afirmativas e outras milongas mais.

Estava bom, mas saímos dali, e pegamos a direção da Zona Sul, e Botafogo, pegamos o historiador Milton Mendonça Teixeira, um renomado expert em história da cidade do Rio de Janeiro.

- Onde a gente vai?- perguntou ele dentro do carro.

- Para o Valongo e Pedra do Sal, professor.

- Então, é comigo- respondeu ele preciso.

Chegamos ao Valongo.

Estranhamos.

Pensamos que íamos encontrar o local meio esvaziado, sem gente...deserto...as atividades negras geralmente não costumam a ser realizadas ali no Dia Nacional da Consciência Negra...essas coisas.

Qual o quê.

Havia gente ali...eram funcionários e negros selecionados pela empresa Porto Novo.

Esta empresa detém os maiores contratos de obras do Projeto Porto Maravilha da prefeitura do Rio de Janeiro, e vem se entrosando com as comunidades da Pequena África, ou seja, praticando a tal da “responsabilidade social”.

Qual era o projeto que a Porto Novo estava envolvida naquele momento?

A transformação do porto escravista do Valongo, na Saúde, como Patrimônio Mundial da Humanidade com a apoio do Comitê Científico do Projeto Rota dos Escravos da Unesco.

Mas era uma coisa muito grande...e porque não havia militantes de entidades negras presentes no ato?

Parece que nenhum grupo afro das redondezas foi chamado para isso.

Mas, ali, nós, vimos, as coisas acontecerem na nossa frente, no porto escravista do Valongo...vimos os funcionários da Porto Novo cobrir as placas sobre o evento com dois panos azuis.

Em seguida, a gente vê um grupo de negros/brancos, entrando dentro no que restou do porto.

Vimos um negão que nos chamou atenção.

Era ALI MOUSSA-IYE, chefe do Projeto Rota dos Escravos da Unesco.

Esse cara já tinha vindo ao Brasil algumas vezes, mas ali, no porto do Valongo, que acolheu cerca de 1 milhão de escravos, segundo o historiador Carlos Eugênio Líbano Soares, em sua trajetória, ele parecia muito feliz...olhava para as pedras que restaram do cais...

De repente, a cerimônia se realizou, a placa foi descoberta e houve palmas e discursos em louvor ao local se transformar em Patrimônio Mundial da Humanidade.

No entanto, espremidos, num canto, percebi a presença de amigos negros, no cerimonial de transformação do Valongo como Patrimônio Mundial da Humanidade.

Eram Damião Braga, líder dos quilombos urbanos da Pedra do Sal; Dulce Vasconcelos, presidente do Comdedine ( Conselho Municipal de Defesa dos Direitos do Negro), e Marcelo Dias, Superintendente da Supir ( Superintendência Estadual de Promoção da Igualdade Racial).

Fizemos entrevista com eles.

Disseram, então, que não sabiam deste evento onde a Unesco fixou a uma placa colocando o Valongo como candidato potencial de Patrimônio Mundial da Humanidade.

Segundo consta, era o primeiro país do mundo onde a Rota dos Escravos da Unesco fixava uma placa reconhecendo o Valongo como roteiro genuíno da história africana da Diáspora.

Damião confessou que ficou sabendo por fora, e resolveu comparecer ao evento.

Sem mesmo ter sido convidado pela organização do encontro.

O mesmo disseram Dulce Vasconcelos, presidente do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos Negros (Comdedine), e Marcelo Dias, (Superintendente de Políticas Estaduais de Promoção da Igualdade Racial)

Ou seja, eles, embora fora oficialmente do evento, não deixaram de marcar presença numa festa afro, embora a intenção não fosse convidar a militância negra tradicional.

Depois, do almoço, resolvemos acompanhar a reinauguração, no Centro Cultural José Bonifácio, na Rua Pedro Ernesto, ou Rua do Cemitério dos Escravos, como chamavam os antigos, na Saúde, ali, próximo do Valongo.

Naquele local, brilhava um prédio de três andares, estilo neoclássico, belo, com diversas salas para eventos, houve a apresentação de uma congada de Minas Gerais. Logo, ingressamos, outra vez, no campo político, com a inauguração da placa relativa a reforma do belo prédio.

Neste caso, encontramos, ali, o prefeito Eduardo Paes, o secretario municipal de Cultura Sergio Sá Leitão, o secretario estadual de Assistência Social e Direitos Humanos Zaqueu Teixeira, o presidente da Companhia do Porto Maravilha Alberto Silva, a ministra da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial Luiza Bairros, e novamente Dulce Vasconcelos e Damião Braga.

Detalhe: falou todo o mundo, mas o apresentador da festa, por sinal, negro, não chamou Dulce e Damião para falar ao microfone apesar de ser um evento afro...falou todo o mundo, menos eles.

Ah, também, estava no local, a maior autoridade dentre eles, o Chefe do Projeto Rota dos Escravos, Ali Moussa-Ile, que também não foi chamado para falar...

Dulce, então, pediu o microfone, e ali mesmo, sem que tivesse sido convidada, se dirigiu ao prefeito, pedindo que fossem abertas negociações entre o Comdedine e o município, pois, a instituição queria participar das políticas publicas municipais em relação ao negro.

Houve pequenos aplausos e Paes, malando, abraçou Dulce, talvez até querendo sufocar uma certa rebeldia negra que ameaçava se instalar ali.


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